A poética de Bianca Souza se caracteriza por uma forte carga emocional e reflexiva. O fluxo de consciência acentuam a autenticidade da voz poética, convidando o leitor a um diálogo íntimo com suas próprias memórias e feridas.
(Poema)
Agoniei-me a mim mesmo
Toco-te em minha mente
Tilintando em meus ouvidos
Sufocando deliberadamente
Nada além do que foi perdido
O coração começa a bater
Sem controle de suas ações
E quase sem me conter
Rasgo-me em mil frações
E apago.
(Poema)
Trouxe flores hoje
De volta ao passado,
Me recordo da casa amarela
Do corte de cabelo extravagante
Eu, garotinha do “gênio ruim”
Sempre arranjando motivos
Para nos aproximarmos.
Os sermões, as ordens várias
Me lembrando de sua maternidade
Do pouco tempo dedicado a mim
Dentre seus outros quatro filhos.
O tempo passa, não há garotinha
Sucessão de escolhas impensadas
“Filha-problema”.
Para não acabar sozinha,
Me deitei nos braços
da (in)felicidade matrimonial
Tal mãe tal filha
Porém, renegando o papel materno.
A verdade é que
Me fechei como uma orquídea
Inapta ao renascimento
E quem me amaria senão aqueles que reneguei?
Seria a mãe que me foi aos meus filhos?
Devaneando em meus sonhos
Com o sutil toque de nossas mãos,
Voltando à juventude
Pedindo um abraço singelo.
E não notei naquele dia,
Com seus cabelos brancos sobre o colo,
Que nos despedíamos discretamente.
“Mãe, você me ama, não é?”
A surpresa em seus olhos
Inconformada, a minha criança interior
E você disse, duas vezes.
Pisco.
O céu azulado me parece cinza
Terra molhada, olhos mais ainda
Hoje te enterro sozinha
Pois aqueles ao redor não entenderiam
Que nossas almas eram uma só.
Em silêncio,
Apenas nós duas
Não.
Apenas eu, implorando que diga
“Por, favor, mamãe”
Diga que me ama mais uma vez.
Sobre a Autora
Bianca Souza é licenciada em Língua Portuguesa e atualmente cursa mestrado em Letras e Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes (PPGLA), em 2024 foi finalista do Prêmio de Poesia Jovem Thiago de Mello. Escreve quando a luz se apaga e a mente acende, explorando nas palavras a delicadeza e a intensidade de suas vivências e reflexões.