O Terror (ou o Fascínio) dos Espelhos na Obra de Jorge Luis Borges

Jorge Luis Borges, um dos mais influentes escritores da literatura universal, explorou em sua vasta obra temas que desafiam a compreensão da realidade, do tempo e da identidade. Entre esses temas, o espelho ocupa um lugar de destaque, funcionando como um objeto físico e um símbolo complexo que reflete a obsessão do autor pela dualidade e pelo infinito.

Nos contos de Borges, o espelho transcende sua função cotidiana de refletir imagens. Nos textos do autor argentino, o espelho emerge como um portal para o desconhecido, um convite à reflexão filosófica sobre a existência. O espelho borjiano duplica o mundo visível e questiona a autenticidade do real, criando um jogo de ilusões e paradoxos que desestabiliza o leitor.

Borges manifestava, inclusive, um certo temor irracional pelos espelhos, considerando-os objetos que ameaçavam a unicidade do “eu”. Esse medo reflete-se em sua literatura, onde o espelho frequentemente simboliza a perda da identidade. O reflexo pode ser visto como um outro “eu”, autônomo e potencialmente perturbador, uma ideia que impacta com o conceito de doppelgänger na literatura fantástica.

Além disso, o espelho em Borges está intrinsecamente ligado ao infinito. Sua capacidade de criar reflexos infinitos, especialmente quando posicionado frente a outro espelho, evoca a ideia de uma realidade sem começo ou fim, um tema caro ao autor, que frequentemente brincava com labirintos e estruturas narrativas circulares.

Em suma, o uso dos espelhos na obra de Jorge Luis Borges é um convite à introspecção e à quebra das certezas. Eles são dispositivos literários que ampliam as fronteiras da percepção, levando o leitor a questionar o que é real e o que é só um reflexo de suas próprias crenças e medos. Assim, Borges transforma um simples objeto em um símbolo universal de suas inquietações filosóficas e existenciais.

Xiosmel Ramon Herrera
Editor-chefe Revista Rio Negro